Joelândia Nunes Ulisses de Oliveira

 

UM OLHAR SOBRE AS NARRATIVAS HISTORIOGRÁFICAS DA MULHER MEDIEVAL NA LITERATURA INFANTIL E O CONTEXTO ESCOLAR

 

Joelândia Nunes Ulisses de Oliveira

 

O atual contexto pandêmico tem deixado sequelas não só de ordem biomédica e epidemiológica, mas principalmente sequelas sociais, como o aumento do desemprego, recorrentes casos de feminicídio e agressões contra a mulher. Estamos vivendo momentos difíceis não só devido ao acometimento da Covid – 19, mas também pela conjuntura política de negacionismo, discursos misóginos e homofóbicos, e retrocesso social. Neste cenário, como a educação básica, responsável pela formação de cidadãos e cidadãs críticos(as) e autônomos(as), pode atuar de forma a promover uma sensibilização em crianças e adolescentes no combate a misoginia, sexismo e machismo?

 

Segundo a pedagoga Abigail Pereira, em audiência pública da Comissão de Direitos Humanos (CDH) que debateu a violência contra a mulher, em 09 de março de 2020, “a situação é grave, [existe] a epidemia do coronavírus que muda até nossas relações, nossas formas de nos cumprimentar, mas o feminicídio é epidemia também, que exige uma resposta imediata porque já está virando endemia, tal a gravidade da situação”. A pedagoga questiona, ainda, como é possível que um país maltrate e violente tanto suas mulheres. O Brasil é o quinto país com mais feminicídios no mundo — em 2018, foram registrados 1.206 casos no Brasil, segundo o Anuário Brasileiro de Segurança Pública, ante 1.151 em 2017. Os passos para alterar esse quadro, segundo os palestrantes presentes na audiência, passam pela educação desde a base, pelo estímulo às mulheres para denunciar as agressões e pelo investimento estatal.

 

Nesse diapasão, o papel da educação básica é fundamental no combate à violência de gênero, é preciso que nossas crianças tenham uma visão crítica sobre os processos de construção histórica, social e linguística imbricados na formação de mulheres, homens, meninas e meninos para que se tornem mais conscientes no futuro. Promover debates e reflexões no chão da escola sobre masculinidade e feminilidade que não estejam apenas sob a égide do sexo biológico representa uma atitude de quebra do ciclo vicioso discriminatório, misógino, sexista e homofóbico. No entanto, abordar questões de gênero na sala de aula, especialmente no Ensino Fundamental ainda é um tabu.

 

A necessidade deste estudo surgiu da vivência de um caso concreto no chão da escola, no qual uma das alunas da turma do 6º Ano confidenciou não se sentir pertencente a nenhum grupo da sala, simplesmente por vestir-se de forma diferente das demais meninas da turma. No decorrer das aulas ficou evidenciado que a aluna era excluída pelos colegas e eles nem mesmo percebiam tal atitude.

 

Tomando como ponto de partida essas observações e as inquietações que afligiam a aluna, passei a refletir sobre o que meninas e meninos sabem sobre masculinidade e feminilidade? Como nós, educadores, estamos contribuindo para uma educação plural e equitativa? Quais abordagens e narrativas históricas e literárias sobre o protagonismo feminino são contadas para essas crianças no contexto escolar?

 

Desta forma, este texto propõe a partir do estudo sobre as narrativas historiográficas das mulheres medievais presentes na literatura infantil promover a sensibilização de meninas e meninos no combate a misoginia, sexismo e machismo no contexto escolar. Enquanto metodologia, optou-se pela pesquisa bibliográfica em meio eletrônico de livros, artigos e dissertações relacionados aos temas história das mulheres, narrativas historiográficas das mulheres no medievo e misoginia na literatura infantil. Marcone e Lakatos (2003) definem que a pesquisa bibliográfica:

 

“Abrange toda bibliografia já tornada pública em relação ao tema de estudo, desde publicações avulsas, boletins, jornais, revistas, livros, pesquisas, monografias, teses, material cartográfico etc., até meios de comunicação orais: rádio, gravações em fita magnética e audiovisuais: filmes e televisão. Sua finalidade é colocar o pesquisador em contato direto com tudo o que foi escrito, dito ou filmado sobre determinado assunto, inclusive conferências seguidas de debates que tenham sido transcritos por alguma forma, quer publicadas, quer gravadas.” (MARCONE e LAKATOS, 2003, p. 183).

 

Para Manzo (1971, p. 32 apud MARCONE e LAKATOS, 2003, p. 183), “a bibliografia pertinente oferece meios para definir, resolver, não somente problemas já conhecidos, como também explorar novas áreas onde os problemas não se cristalizaram suficientemente". Assim, este texto tem como aporte teórico os (as) autores (as) Scott (1995); Louro (1997); Zilberman (2012); Sousa e Caixeta (2019); Pinheiro (2021); Carvalho, Araújo e Tenório (2021).

 

Compreendendo as questões de gênero e a ocultação das narrativas sobre as mulheres na História

 

Por muito tempo discutimos questões sobre gênero, sob a égide dos sexos biológicos, no entanto, a teoria das Ciências Sociais citada em Barreto (2012), enfatiza que as identidades masculinas e femininas são construções culturais engendradas sobre os corpos, não se configurando, portanto, como dados biológicos naturais e universais. O gênero tornou-se uma categoria de classificação de indivíduos, assim como a raça/etnia.

 

No Caderno SECAD/ MEC - Gênero e diversidade sexual na escola: reconhecer diferenças e superar preconceitos, publicado pela Secretaria de Educação Continuada, Alfabetização e Diversidade do Ministério da Educação, em 2007, encontramos a seguinte definição:

 

Ao se falar em gênero, não se fala apenas de macho ou fêmea, mas de masculino e feminino, em diversas e dinâmicas masculinidades e feminilidades. Gênero, portanto, remete a construções sociais, históricas, culturais e políticas que dizem respeito a disputas materiais e simbólicas que envolvem processos de configuração de identidades, definições de papéis e funções sociais, construções e desconstruções de representações e imagens, diferentes distribuições de recursos e de poder e estabelecimento e alteração de hierarquias entre os que são socialmente definidos como homens e mulheres e o que é – e o que não é - considerado de homem ou de mulher, nas diferentes sociedades e ao longo do tempo.” (HENRIQUES, 2007, p. 16).

 

Desta forma, o termo gênero representa uma construção social, histórica, cultural e política que deve romper as barreiras de distinções meramente biológicas. No cotidiano, ainda vemos a categorizações de profissões e objetos como “coisas de homens” ou “coisas de mulheres”, essas categorizações circunscrevem uma naturalização histórica dos papéis dos sexos, no qual a masculinidade é construída a partir do discurso determinista, universal e imutável, que justifica assimetria entre homens e mulheres a partir das características físicas, impondo o masculino em ascendência de poder em relação ao feminino.

 

“O argumento de que homens e mulheres são biologicamente distintos e que a relação entre ambos decorre dessa distinção, que é complementar e na qual cada um deve desempenhar um papel determinado secularmente, acaba por ter o caráter de argumento final, irrecorrível. Seja no âmbito do senso comum, seja revestido por uma linguagem "científica", a distinção biológica, ou melhor, a distinção sexual, serve para compreender — e justificar — a desigualdade social.” (LOURO, 1997, p. 20-21, grifo do autor).

 

A despeito desse estruturalismo social, Scott (1995) traz algumas indagações sobre a estruturação da organização familiar baseada em uma divisão sexual do trabalho, que exige, por exemplo, que os pais trabalhem e as mães executem a maioria das tarefas de criação das crianças, sem razões claras que justifiquem estas articulações.

 

Como podemos explicar no seio dessa teoria a associação persistente da masculinidade com o poder e o fato de que os valores mais altos estão investidos na virilidade do que na feminilidade? Como podemos explicar a forma pela qual as crianças parecem aprender essas associações e avaliações mesmo quando elas vivem fora de lares nucleares, ou no interior de lares onde o marido e a mulher dividem as tarefas familiares? Penso que não podemos fazer isso sem conceder uma certa atenção aos sistemas de significado, quer dizer, aos modos pelos quais as sociedades representam o gênero, servem-se dele para articular as regras de relações sociais ou para construir o significado da experiência.” (SCOTT, 1995, p. 81-82).

 

Para a autora é essencial dar certa atenção aos sistemas de significados, isto é, às maneiras como as sociedades representam o gênero, o utilizam para articular regras de relações sociais ou para construir o sentido da experiênciaLouro (1997, p. 17) afirma que “a segregação social e política a que as mulheres foram historicamente conduzidas tivera como consequência a sua ampla invisibilidade como sujeito, inclusive como sujeito da Ciência”.

 

Sousa e Caixeta (2019) argumentam que a historiografia representa um campo de disputa de interesses, um espaço político que favorece o discurso androcêntrico. A memória historiográfica de ocultação das mulheres induziu à irrelevância de sua atuação. Esse silenciamento de arquivos envolve dupla implicação de exclusão, o recorte sujeito – espaço.

 

Não obstante, o movimento feminista da década de 60 do século XX trouxe à baila a politização a respeito da história das mulheres, que durante anos foi ocultada dos livros e documentos históricos oficiais, como se as mulheres não tivessem tido qualquer tipo de atuação na história. Um dos marcos do feminismo no século XX foi a publicação do livro “O Segundo Sexo”, em 1949, por Simone de Beauvoir. Ao tratar sobre a infância, a autora traz a seguinte definição sobre a mulher:

 

“Ninguém nasce mulher: torna-se mulher. Nenhum destino biológico, psíquico, econômico define a forma que a fêmea humana assume no seio da sociedade; é o conjunto da civilização que elabora esse produto intermediário entre o macho e o castrado, que qualificam o feminino.” Beauvoir (2009, posição 5617).

 

Nesse fragmento a autora ressalta que a mulher é resultado de uma elaboração cultural e histórica a partir de uma alteridade masculina, e sinaliza questões importantes referentes às construções sociais das quais estão ancoradas no modo em que as mulheres são socializadas, de como ainda educamos meninas e meninos presos a valores e mitos.

 

Mesmo com o grande destaque do movimento feminista, ainda não se percebe mudanças significativas na forma como as práticas e representações de gênero são produzidas na sociedade e no contexto escolar, a História permanece sendo um campo de lutas ideológicas, colocar em evidência o protagonismo feminino é uma questão prioritária no combate à misoginia e atitudes discriminatórias.

 

Mulheres no Medievo

 

A Base Nacional Comum Curricular traz como uma das habilidades a ser desenvolvidas pelos estudantes do 6º Ano do Ensino Fundamental “(EF06HI19) Descrever e analisar os diferentes papéis sociais das mulheres no mundo antigo e nas sociedades medievais” (BNCC, 2017, p. 421). Para as crianças o período Medieval é o mais instigante, devido aos estereótipos retratados em filmes e contos infantis. No imaginário das crianças, esse período contará histórias de princesas indefesas, bruxas, heróis e príncipes encantados em seus castelos incríveis, num cenário carregado de misticismo, equivocadamente conhecido como Idade das Trevas.

 

De acordo com Pinheiro (2021), infelizmente, ainda há um pré-conceito em relação à Idade Média em vários aspectos, sejam eles sociais, econômicos, políticos, religiosos, inclusive por parte de professores que ministram conteúdo de História, restringindo-se tão somente ao que está nos livros didáticos e ou reforçando estereótipos de filmes e novelas de época. A autora acrescenta há uma misoginia cultural, que, muitas vezes, impede que se veja que houve uma efetiva participação feminina nos mais diversos campos do saber, em todos os períodos históricos, principalmente no Medieval. Isso abre brechas para a criação de estereótipos que não condizem com a realidade.

 

Atualmente há uma ampla produção acadêmica que traz à tona o protagonismo feminino no Medievo, no que diz respeito aos aspectos educacionais, laborais, médicos e artísticos, como, Matilde de Canossa (1046-1115), Teresa de Leão (1080-1130)Heloísa de Argenteuil (1090-1164), Hildegard von Bingen (1098–1179), Christine de Pizan (1364–1430), Edviges de Anjou (entre 1374 e 1374-1399), e tantas outras mulheres que protagonizaram histórias no período medieval, no entanto pouco ou nada se vê nos livros didáticos a respeito dessas personagens. Na análise de alguns livros do 6º Ano, Pinheiro (2021, p. 30) constatou que:

 

“Há pontos em comum em textos de autores e editoras diferentes, alguns apresentando uma perspectiva mais atual, contudo, outros optaram por permanecer na linha em que predomina a dicotomia Eva, a sedutora dos homens, representando praticamente todas as mulheres e, Maria, a redentora, um ideal praticamente impossível de ser alcançado.”

 

Destarte, é preciso que o movimento decolonial saia das academias e adentre na sociedade, para tanto cabe ao professor instigar os alunos a refletirem acerca das possíveis rupturas e permanências a respeito do olhar depreciativo sobre a presença feminina na Idade Média, a fim de descontruir as narrativas misóginas relacionadas a história das mulheres no Medievo que imperam principalmente no imaginário das crianças.

 

Ressonâncias de narrativas misóginas sobre a história das mulheres do medievo na literatura infantil

 

A Literatura Infantil surgiu ao final do século XVII, com adaptações dos contos populares e lendas da Idade Média, os irmãos Grimm tiveram um papel muito importante na compilação desses contos/ histórias, bem como Charles Perrault. Segundo Ziberman (2012), esses contos populares narrados oralmente pelos camponeses foram retocados e adaptados para atender as demandas do modelo familiar burguês da França, havendo significativas mudanças neles, como as histórias Chapeuzinho Vermelho e Bela Adormecida, e utilizados como meio de controle do desenvolvimento intelectual da criança e manipulação de suas emoções, com marcante intuito educativo, permanecendo, ainda nos dias atuais, como uma colônia da pedagogia.

 

Meireles (2016, apud CARVALHO, ARAÚJO e TENÓRIO, 2021) ao tratar sobre as influências das primeiras leituras e as emoções que estas são capazes de mobilizar nas crianças afirma que as mesmas podem repercutir na sua vida de forma definitiva, chegando a influenciar vocações, rumos e determinar escolhas futuras. Tomando por base a influência que a Literatura Infantil exerce na formação da identidade da criança, as autoras Carvalho, Araújo e Tenório (2021) trouxeram à baila as narrativas acerca das relações patriarcais de gênero e o papel da mulher na sociedade embutidos nos clássicos infantis:

 

“Ao observarmos os clássicos infantis, é possível perceber a posição social da mulher em relação ao homem. O fato da princesa, na maioria dessas histórias, ter seu final feliz vinculado a necessidade de ser salva por um príncipe encantado, sinaliza valores e comportamentos que podem ser incorporados facilmente pelas crianças, perpetuando a visão da mulher como alguém obediente, frágil, dependente e submissa. De forma subliminar e aparentemente inocente, podem ser fortalecidas no imaginário dos(as) leitores(as) visões machistas e patriarcais.” (CARVALHO, ARAÚJO e TENÓRIO, 2021, p. 2364)

 

As autoras tecem observações não só ao papel das “mocinhas” ou “princesas”, que alimentam uma visão misógina do papel da mulher na sociedade, como também traçam um estudo histórico da figura das bruxas. A imagem das bruxas é uma construção histórica que se fortaleceu na Idade Média, como forma de punição a mulheres que exerciam influências sobre determinados grupos sociais. Eram mulheres que exerciam o papel de curadoras, parteiras e tinham um saber próprio, e na Idade Média passaram a ser vistas como filhas de satã. Para Silva e Santos (2020):

 

“A bruxa e a sua personalidade forte, invejosa, feia, maléfica, e junto ao seu mal agouro, é a maior representação concretizada no consciente da sociedade contemporânea. Este conjunto de fatores que rodeiam e retratam a imagem da mulher provida de conhecimentos para o mal, infelizmente, tornou-se no que chamamos hoje de pré-conceito, acarretando numa das maiores personagens da História vista com maus olhos: a mulher.” (SILVA e SANTOS, 2020, p. 2).

 

Nesse sentido, Bourdieu (2019, apud CARVALHO, ARAÚJO e TENÓRIO, 2021, p. 2369) “chama atenção para a violência simbólica contra a mulher, por meio de práticas cotidianas que se atualizam, naturalizando preconceitos que deveriam ser combatidos. São violências muitas vezes suaves, insensíveis e invisíveis às próprias vítimas”.

 

Na tentativa de superar essa visão inferiorizada e a submissão presentes na Literatura Infantil, vários contos clássicos vêm sofrendo mudanças, adaptando-se as necessidades, intencionalidades e valores de cada época. Refletir sobre essas mudanças e trazer essas releituras para a sala de aula é um importante passo para a formação da criança com um olhar crítico sobre as questões de gênero.

 

Considerações finais

 

Esta breve reflexão evidencia que a ocultação das narrativas historiográficas sobre mulheres é um campo político, que se estabelece ao longo dos anos definindo papéis para homens e mulheres baseados em suas características biológicas, no qual prevalece a tendência de assumir o masculino como único modelo de representação coletiva.

 

Na discussão foi trazido à tona que o Movimento Feminista trouxe importantes contribuições para o estudo e a visibilização sobre a História das Mulheres, no entanto, apesar dos consideráveis avanços, na prática pouco se discute no contexto escolar sobre a atuação da mulher na História, e na literatura se percebe ainda personagens femininas estereotipadas, com narrativas engajadas em lhe atribuir um papel secundário.

 

Neste sentido, a História Medieval e a Literatura Infantil se cruzam, tendo em vista que os clássicos infantis subjugam as mulheres, na medida que apresentam as princesas como personagens passivas, obedientes, com seus cabelos e trajes impecáveis à mercê do amor e proteção do cavaleiro para terem um final feliz, enquanto que as que se rebelam e protagonizam suas escolhas são consideradas bruxas, representadas por mulheres feias e más. Tais narrativas trazem à tona a dualidade feminina representada no Medievo, no qual a mulher casta e submissa era comparada a pureza de Maria, enquanto que a subversiva trazia consigo o pecado de Eva. Ademais, as bruxas representam um elemento histórico da Idade Média, mas ao buscarmos uma definição do termo “bruxa” em dicionários, logo pode-se perceber a direta vinculação com uma figura maléfica, feia e perigosa representadas nos livros infanto-juvenis.

 

É necessário, portanto, repensar a presença de narrativas misóginas sobre a historiografia das mulheres do Medievo na literatura infantil reproduzidos na sala de aula, em sua maioria sem qualquer contextualização crítica. Nesse sentido, ainda que os livros didáticos e contos apresentem a invisibilidade de narrativas femininas, o professor pode conduzir a visibilização dessas narrativas e atuar como um dos agentes na formação de novas mentalidades e posturas.

 

Enfatizar a atuação feminina nos eventos históricos trabalhados em sala de aula contribui tanto para uma percepção das relações de gênero, quanto para o desenvolvimento crítico dos educandos. Assim, esse estudo proporcionará que meninas se sintam representadas na história e identifiquem suas referências e construções sociais e culturais, como também um novo olhar dos meninos sobre a história das meninas e sua atuação ativa na sociedade, na História e na Literatura, com fulcro a promover uma educação plural e equitativa.

 

Referências biográficas

 

Joelândia Nunes Ulisses de Oliveira, é mestranda do Programa de Pós- Graduação em Formação de Professores e Práticas Interdisciplinares (PPGFPPI) da Universidade de Pernambuco/ campus Petrolina e integrante do Spatio Serti – Grupo de Estudos e Pesquisa em Medievalística (UPE/ campus Petrolina). Atualmente está produzindo a dissertação intitulada provisoriamente “Do amor cortês ao empoderamento feminino: Contexto histórico e atual da representatividade feminina nos livros didáticos de História e Inglês” no PPGFPPI sob orientação do Prof. Dr. Luciano José Vianna.

 

Referências bibliográficas

 

AGÊNCIA SENADO. Educação é fundamental na luta contra o feminicídio. Publicado em: 09 mar. 2020. Disponível em: https://www12.senado.leg.br/noticias/materias/2020/03/09/educacao-e-fundamental-na-luta-contra-o-feminicidio-dizem-debatedores. Acesso em: 03 jul. 2022.

 

BARRETO, Andreia. Educação para igualdade na perspectiva de gênero. Dissertação (Mestrado) – Centro de Pesquisa e Documentação Histórica Contemporânea do Brasil, Programa de Pós- Graduação em História, política e bens culturais. Rio de Janeiro, 2012, p. 29-75. Disponível em: https://:bibliotecadigital.fgv.br/dspace/handle/10438/10264Acesso em: 03 mai. 2022.

 

BEAUVOIR, Simone de. O segundo sexo. Tradução de Sérgio Milliet. – 2.ed. – Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 2009. E- book.

 

BRASIL. Base Nacional Comum Curricular: Educação é a base. Ministério da Educação. Abr. 2017. Disponível em: http://basenacionalcomum.mec.gov.br/a-baseAcesso em 05 jul. 2022.

 

CARVALHO, Simone Salvador; ARAUJO, Lorraynne de Melo; TENÓRIO, Sara Fernandes. Do patriarcado ao empoderamento feminino: reflexões entre a bela adormecida (1959) e malévola (2014)In: Anais. VIII ENCONTRO DE PESQUISA EDUCACIONAL EM PERNAMBUCO. Campina Grande: Realize Editora, 2022. Disponível em: https://editorarealize.com.br/artigo/visualizar/83546Acesso em: 23 jun. 2022.

HENRIQUES, Ricardo. et al. (Orgs.). Gênero e Diversidade Sexual na Escola: reconhecer diferenças e superar preconceitos. Cadernos SECAD, n. 4, Brasília, maio de 2007. Disponível em: https://prceu.usp.br/wp-content/uploads/2020/05/GENERO_DIVERSIDADE_SEXUAL_NA_ESCOLA.pdfAcesso em: 05 jul. 2022.

 

LOURO, Guacira Lopes. Gênero, sexualidade e educação: Uma perspectiva pós- estruturalista. Petrópolis, RJ, Vozes, 1997. p. 14-36. Disponível em: https://bibliotecaonlinedahisfj.files.wordpress.com/2015/03/genero-sexualidade-e-educacao-guacira-lopes-louro.pdf. Acesso em: 03 jul. 2022.

 

MARCONE, Marina de Andrade; LAKATOS, Eva Maria. Fundamentos de metodologia científica. – 5. ed. – São Paulo: Atlas, 2003. Disponível em: file:///C:/Users/joela/Downloads/LAKATOS%20-%20MARCONI%20-%20FUNDAMENTOS%20DE%20METODOLOGIA%20CIENTIFICA.pdf. Acesso em: 27 jun. 2022.

 

SCOTT, Joan Wallach. Gênero: uma categoria útil de análise histórica. Educação & Realidade. Tradução de Guacira Lopes Louro.  Porto Alegre: v. 20, n. 2, p.71-99, 1995. Disponível em: https://www.seer.ufrgs.br/educacaoerealidade/article/viewFile/71721/40667. Acesso em: 03 jul. 2022.

 

SILVA, Luciana Juvêncio; SANTOS, Sergiana Vieira dos. Mulheres e bruxas: a figura feminina na América portuguesa através da visita da santa inquisição no século XVI: feitiçaria, patriarcado e misoginia. In: I ENCONTRO INTERNACIONAL DE HISTÓRIA DO SERTÃO: A EDUCAÇÃO E OS DESAFIOS CONTEMPORÂNEOS - Delmiro Gouveia, AL, 2020. Disponível em: https://doity.com.br/anais/i-eihs. Acesso em: 23 jun. 2022.

 

SOUSA, Priscila Cabra de; CAIXETAVera Lúcia. A história das mulheres e o ensino de História: considerações acerca de uma educação para a igualdade de gênero. In: GONÇALVES, Maria Célia da Silva. et al. (Orgs). Dossiê: O ensino de História e os desafios do tempo presente. Revista Multidisciplinar: vol. 17, nº 1, 2019. p. 26-37. Disponível em: http://revistas.icesp.br/index.php/FINOM_Humanidade_Tecnologia/article/view/767Acesso em: 12 jun. 2022.

 

PINHEIRO, Mirtes Emília. Desafios e perspectivas: O enfoque sobre o feminino medieval no Ensino Fundamental. In: VIANNA, Luciano José (Org.). A História Medieval entre a formação de professores e o ensino na Educação Básica no século XXI: experiências nacionais e internacionais. Rio de Janeiro, RJ: Autografia, 2021. p. 19- 50. Disponível em: https://historiapublica.sites.ufsc.br/wp-content/uploads/2021/08/ebook-ahistoriamedievalentreaformacao-180821.pdf. Acesso em: 13 jun. 2022.

 

ZILBERMAN, Regina. A literatura infantil na escola. São Paulo, SP: Editora Global, 2012. 1ª Edição Digital. E- book.

9 comentários:

  1. Jayza Monteiro Almeida12 de setembro de 2022 às 11:14

    Gostaria primeiramente de parabenizar a autora do artigo, está excelente e me fez ter várias ideias para trabalho com contos de fadas e sua desconstrução em sala de aula. Durante seu texto, percebi a questão sobre a formação continuada dos docentes, uma vez que é explicado que muitas ideias errôneas sobre a Idade Média são perpetuadas em sala de aula pelos docentes, revelando assim um problema na atualização referente as novas pesquisas da academia. Esse é um grande problema na educação básica, quando temos carga horária tão reduzida para os planejamentos das aulas e outras atribuições. Dessa maneira, o livro didático, muitas vezes problemático, pois silenciam a história das mulheres ou faz citação quase como uma nota de roda pé para cumprir tabela, é uma fonte de atualização sobre conteúdos que não são da área de pesquisa do docente. Dito isso, existe algum material que você possa indicar para o trabalho em sala de aula partindo da perspectiva da mulher medieval?

    Obrigada e parabéns!

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    1. Cara Jayza, eu quem agradeço suas contribuições e reflexões acerca do meu artigo e fico muito feliz em ter instigado novas ideias para seu trabalho. Sobre o livro didático, meu grupo de pesquisa Spartio Serti trabalha justamente com a análise das narrativas dos livros didáticos pós BNCC, e é fato que a maior parte destes permanecem abordando narrativas da História Maior, como bem define Nilton Mullet Pereira (2017), mesmo com um forte movimento nas academias sobre o processo decolonial no ensino de História. No entanto, o livro didático, apesar de ser a maior ferramenta de trabalho do professor, não deve ser a única. Temos anos de História voltadas para o Eurocentrismo, a desconstrução dessa História Maior ou “única História” inicia-se pelo processo de contextualização que o professor faz em sala, o que pode ser feito a partir de leituras paralelas, propostas de pesquisa ou até análises de filmes medievais ou jogos medievais.
      Acredito que o primeiro passo já está sendo feito, que é a discussão dessa temática na academia e em eventos de ensino, é preciso levar tais indagações para as formações continuadas, que podem ser feitas no âmbito da escola ou em rede.
      Sobre a História das Mulheres no Medievo, minha proposta é que levemos as Histórias das Mulheres contadas por mulheres para dentro da sala de aula. Talvez um trecho de um livro de escritoras do Medievo como: Christine de Pizan, Margarete Porete, Duoda, Hildeguarda de Binguen ou Trótula de Salerno para discussão em sala seria interessante, instigaria os estudantes a pensarem como essas mulheres pensavam na sua época e também conhecê-las. A melhor forma de trazer a História das Mulheres para o chão da escola é propagar essas histórias no nosso meio. Sou professora de Língua Estrangeira e trabalhei a temática trazendo histórias de mulheres através dos contos “Histórias de ninar para garotas rebeldes”. São vários contos que reúnem histórias de mulheres incríveis ao longo da História, com uma linguagem clara e objetiva, esse livro é escrito em Inglês e Português. Há também o livro “As intelectuais da Idade Média” de autoria de Luciana Eleonora de Freitas Calado Deplagne. E os estudos da professora Mirtes Pinheiro que inclusive cito no artigo, ela traz em seu trabalho como vem trabalhando a História das Mulheres em sala ante o silenciamento dos livros didáticos.
      Sobre a carga horária reduzida que o professor de História tem em cada turma, o que acarreta em um grande quantitativo de turmas, acredito que seria interessante trabalhar essa temática com os professores da área de Linguagens e suas tecnologias. A Literatura e a História caminham lado a lado.
      Abaixo deixo algumas referências como indicação:

      Formação do campo história das mulheres:
      SCOTT, Joan. História das Mulheres. In: A escrita da História. Novas perspectivas. Peter Burke (Org.). São Paulo: Editora Unesp, 1992, p. 63-96.
      SOIHET, Raquel. História das mulheres. In: Domínios da história. Ensaios de Teoria e Metodologia. Ciro Flammarion Cardoso; Ronaldo Vainfas (Orgs.). Rio de Janeiro: Elservier Editora Ltda., 2011, p. 263-283.

      Pesquisas sobre história das mulheres no medievo:
      MACEDO, José Rivair. A mulher na idade média. São Paulo: Contexto, 1992.
      DUBY, Georges. Heloísa, Isolda e outras damas no século XII. São Paulo : Companhia das Letras, 1995.
      KLAPISCH-ZUBER, Christiane. Masculino/feminino. In: LE GOFF, Jacques e SCHMITT, Jean-Claude (eds.). Dicionário Temático do Ocidente Medieval. Vol. II. São Paulo: EDUSC, 2002, p. 137-150.
      História das Mulheres. A Idade Média. Organizadores: Georges Duby e Michelle Perrot. Porto: Edições Afrontamento, 1992.
      Mulheres Intelectuais na Idade Média. Disponível em: https://www.editorafi.org/599medieval

      Experiências de sala de aula sobre ensino de História das Mulheres no Medievo:
      Os dois primeiros artigos: https://seer.ufs.br/index.php/pontadelanca/issue/view/1145
      O primeiro capítulo: https://drive.google.com/file/d/1u90QbBa34iedo3FSiIl0ia9SSj1ffw1w/view

      Espero ter respondido sua pergunta, no mais estou a disposição.
      Grata.
      Ass. Joelândia Nunes Ulisses de Oliveira

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  2. Jayza Monteiro Almeida12 de setembro de 2022 às 11:18

    Gostaria primeiramente de parabenizar a autora do artigo, está excelente e me fez ter várias ideias para trabalho com contos de fadas e sua desconstrução em sala de aula. Durante seu texto, percebi a questão sobre a formação continuada dos docentes, uma vez que é explicado que muitas ideias errôneas sobre a Idade Média são perpetuadas em sala de aula pelos docentes, revelando assim um problema na atualização referente as novas pesquisas da academia. Esse é um grande problema na educação básica, quando temos carga horária tão reduzida para os planejamentos das aulas e outras atribuições. Dessa maneira, o livro didático, muitas vezes problemático, pois silenciam a história das mulheres ou faz citação quase como uma nota de roda pé para cumprir tabela, é uma fonte de atualização sobre conteúdos que não são da área de pesquisa do docente. Dito isso, existe algum material que você possa indicar para o trabalho em sala de aula partindo da perspectiva da mulher medieval?

    Obrigada e parabéns!

    Ass. Jayza Monteiro Almeida

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    1. Respondido no comentário anterior.
      Abraços
      Ass. Joelândia Nunes Ulisses de Oliveira

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  3. Joelândia que escrita boa, seu texto é um balsamo, parabéns pela escrita e pela condução da temática, um caminho viável para diminuirmos as distâncias e romper com o estereótipo medieval e da figura feminina nos contos de fadas é um diálogo entre os professores de português e história, como você enxerga esta possibilidade e quais estratégias seriam viáveis?

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    1. Gratidão, Lorene pelo seu comentário. Em relação aos contos de fadas acho interessante problematizar e contextualizar os contos clássicos, fazendo um paralelo com a reescrita desses contos. Vejo diálogos possíveis entre Português, História, Arte e Ciências. Podemos trabalhar as personagens da princesa e da bruxa nos contos e abordar as histórias das mulheres que viviam nas cidades e as que viviam no campo, desmistificando a ideia de "bruxa" tão gravada no imaginário das crianças; trazer a tona os estudos e saberes medicinais que essas mulheres tinham e como eram importantes figuras no seu tempo, inclusive acentuar as mulheres que eram botânicas naquela época, podendo o estudo ser um campo de debate também na disciplina de Ciências; analisar as iluminúrias e trabalhar com interpretação e redesenho de imagens, trabalho este que pode ser direcionado com a disciplina de Arte; ou até construir novos contos em grupos a partir dos estudos historiográficos da mulher no Medievo, colocando em evidência as mulheres que a História tentou apagar.
      Espero ter respondido a sua pergunta.
      Mais uma vez obrigada e estou a disposição para diálogos e propostas.
      Atenciosamente,
      Ass. Joelândia Nunes Ulisses de Oliveira

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  4. Boa Noite Joelandia!
    Parabéns pelo texto!

    Gostaria de perguntar se mesmo com algumas narrativas misóginas, que realmente inferiorizam as mulheres, não haveria também narrativas que destacam o protagonismo feminino?, a exemplo de personagens femininas que revelam de certa forma uma resistência ao sistema hierárquico presente pedantes as diferenças sexuais e culturalmente de gênero?
    Se sim, como trabalhar em sala?


    Marcos de Araújo Oliveira

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    1. Boa noite, Marcos. Há muitos contos infantis e recontos atuais que já destacam o protagonismo feminino, como versões mais recentes de "Chapeuzinho Vermelho", "Depois do felizes para sempre", "Frozen", entre outros. Na cinematografia esse movimento é mais forte, temos os filmes: Malévola, Moana, a última versão de Cinderela, Valente, Mulan. É interessante apresentar as várias versões do mesmo conto para provocação de reflexão e debates em sala.
      Espero ter respondido sua pergunta.
      Ass.: Joelândia Nunes Ulisses de Oliveira

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