Gessica de Brito Bueno e Christian Fausto Moraes dos Santos

MANIFESTAÇÕES DO ÚTERO: CONCEPÇÕES MÉDICAS ACERCA DA MENSTRUAÇÃO E ANOMALIAS NO SÉCULO XVIII EM ERÁRIO MINERAL (1735) DE LUÍS GOMES FERREIRA

 

Gessica de Brito Bueno

Christian Fausto Moraes dos Santos

 

As colônias na américa portuguesa do setecentos, influenciadas pelas metrópoles, constituíram sua tradição médica e literária seguindo doutrinas e bases antigas, apesar dos avanços em relação ao conhecimento da anatomia do corpo humano, ainda no início do século XVIII não havia uma precisão sobre seu funcionamento, pois ainda atribuíam a geração da vida pelo sangue menstrual sem citar a existência do óvulo em nenhum momento (POLETTO, 2011). Ao longo dos séculos foram sendo acomodadas superstições misóginas acerca da figura feminina e sua constituição biológica, elaborações que foram ganhando contornos exagerados em relação ao útero, inspirando médicos a cuidados e teses sobre seu efeito no corpo (DEL PRIORE, 2004). Essas concepções surgiram há mais de dois mil anos, possivelmente desde o século V a.C., com os discursos do conhecido médico Hipócrates, como também absorveram o pensamento católico e islâmico na era medieval (ABREU, 2007).

 

No século XVIII, então, o imaginário popular e as concepções médicas absorveram ideologias dos períodos antecedentes, acomodando crenças sob influência de signos e demonologia luciferina, onde o protagonismo da matriz feminina emergiria como o centro causador de desgraças sobrenaturais (ARAÚJO, 2004, In: DEL PRIORE, 2004). E uma das crenças que despertavam o senso de abominação e do fantástico foi a de que poderiam nascer monstros com características híbridas, resultantes de relações sexuais, onde o homem teria tido contato com o sangue menstrual da mulher (FERREIRA, 2002).

 

A reputada medicina da antiguidade, então, anunciaria em seu tempo a Teoria dos Humores, desenvolvida pelo médico grego Hipócrates, os princípios terapêuticos dessa teoria seriam apropriados, ulteriormente, no setecentos, constituindo o cerne para o estudo e tratamento de doenças (COELHO,2002, p. 156: In: FURTADO, 2002). Nos tratados produzidos pelo cirurgião-barbeiro português Luís Gomes Ferreira em seu manual de medicina intitulado Erário Mineral (1735), é possível analisar a interpretação que o cirurgião-barbeiro concebe à menstruação, com base na Teoria Humoral. Ele a interpreta como um fluído venenoso que causa danos terríveis, condicionando a mulher num jogo intrincado de intenções malignas, uma vez que, o engendramento feminino no discurso religioso afirmava que o demônio transmitia especialmente as mulheres o seu poder, com intuito de propagar o seu mau (FONSECA, 2020).

 

Destarte, a lógica que adequa a menstruação na Teoria Humoral se dá pelo fato de que, segundo Porter e Vigarello (2008, p. 443, In: CORBIN, COURTINE e VIGARELLO, 2008) “Não é aberrante fazer do “estado” dos fluídos, indícios do “estado” do corpo”. Ou seja, a comparação da menstruação como excremento ou fluído venenoso, dado o mistério no interior dos corpos, levando em consideração que o diagnóstico pela observação inspecionava mais os líquidos do que os sólidos, levava a menstruação regular das mulheres a serem interpretadas como resultado de um desiquilíbrio interno constante (PORTER e VIGARELLO, 2008, In: CORBIN, COURTINE e VIGARELLO, 2008). A menstruação seria encarada como um excesso e desiquilíbrio humoral constante, produzido pelo aparelho reprodutor feminino, uma doença exclusiva da mulher (LEAL, 1995.:In: ALVES e MINAYO, 1995).

 

O cirurgião-barbeiro cita ainda em sua obra o livro de levítico, do Antigo Testamento, como base para explicar a proibição do contato com o sangue menstrual e os danos que se dará ao ter relações sexuais com uma mulher nesse período, onde ele escreve que “é tão danosíssimo o dito sangue que era proibido no Levítico ou lei antiga que a mulher e o homem não tivesse ajuntamento enquanto durassem os dias da menstruação” (FERREIRA, 2002, p. 313, In: FURTADO, 2002). Mas quais seriam os outros danos do sangue catamenial que Ferreira não teria incluído em sua obra? Ao avaliar documentos do mesmo período, bem como, o contexto do setecentos, é possível perceber quais foram os outros danos que Ferreira deixou de mencionar, considerando que esse tema feminino não era o foco em seus tratados médicos, a dimensão do conteúdo em Erário Mineral não permitiu um maior aprofundamento sobre o assunto, mas ele deixou indícios, e foi o necessário para refletirmos acerca das consequências que o contato com o sangue menstrual poderia gerar no nascimento de uma criança.

 

Teratologia: do fabuloso ao científico

 

O conceito de teratologia encontrado hoje diz respeito a uma especialidade médica que se dedica ao estudo das anomalias e malformações ligadas a uma perturbação do desenvolvimento embrionário ou fetal, ou seja, estudo sobre causas, mecanismos e padrões do desenvolvimento anormal, e, julgando pelo parco material que há nos registros em plataformas digitais, ainda é uma área pouco explorada pelos estudiosos da atualidade (CASTRO, 2015). A teratologia, como todas as outras ciências naturais, percorreu fases sucessivas em sua longa duração até atingir a configuração atual, e, por isso, se faz necessário discutir sobre as fases que explicam seu desdobramento ao longo dos séculos, tendo em vista que sua trajetória revela indícios para a compreensão sobre a crença na relação da figura feminina com o surgimento das monstruosidades (CUNHA, 1884).

 

Segundo o diplomata crítico de arte da Lituânia Jurgis Baltrusaitis (1999, p. 9) o campo de conhecimento da história da ciência que se dedica à área da teratologia é o estudo do avesso, a outra face, ou seja, a partir de um raciocínio se cria uma multiplicidade de faces, e essas contém erros e realidades. Nesse intuito, compreender a mitologia e a lenda das formas, que fazem parte da morfologia lendária, é essencial para a compreensão da escalada do desenvolvimento da teratologia como também dos estudos anatômicos, as anomalias fazem parte de uma realidade que anda ao mesmo tempo paralela e ligada as descobertas anatômicas (BALTRUSAITIS, 1999).

 

Segundo o esboço histórico do médico Bernardo Joaquim da Silva e Cunha (1884, p. 2) houve três fases da teratologia, sendo a primeira empírica, momento de acumular os fatos, bem ou mal observados, a segunda é onde se procurou estabelecer os diferentes tipos de anomalias, conhecer suas relações e classificá-las, e, por último, momento que se procura a origem e o modo como essas anomalias se formam, as leis que regem seu aparecimento e desenvolvimento. Essas fases foram chamadas de fabuloso, positivo e científico, consecutivamente (CUNHA, 1884).

 

É pasmoso perceber que a primeira fase se estendeu desde os tempos mais remotos até os primeiros anos do século XVIII, considerando que a teoria da teratologia foi publicada por Étienne Geoffroy Saint-Hilaire no início do século XIX, o primeiro volume em 1818 e o segundo em 1822 com o título           Philosophie Anatomique (COURTINE, 2008, In: CORBIN, COURTINE e VIGARELLO, 2008), mas não surpreendente, considerando a miscelânea de conhecimentos que buscavam explicar todos os problemas da vida, em especial, da saúde e doença do corpo humano, corroborando para um processo complexo e longo para a formação de uma medicina com bases científicas que se conhece hoje (MIRANDA, 2017). Destarte, é uma fase caracterizada por observações errôneas, grosseiras, banhadas em crenças e absurdos, resultado de superstições criadas pelo imaginário popular (CUNHA, 1884).

 

As lendas foram introduzidas na sociedade de tal modo que transgrediram os limites da razão, considerando que filósofos e eruditos da época, frequentemente, eram associados às considerações mais estranhas, e acreditavam que os monstros eram prodígios, encarados tanto como cólera e castigo de Deus, como produtos de operações do diabo (BALTRUSAITIS, 1999). Suas presenças significavam o presságio de algo ruim que se aproximava, como guerras, fomes ou epidemias. As duas cidades rivais, Esparta e Atenas, tinham em comum a lei de condenar à morte nascidos deformados, leis essas que continuariam a vigorar na Idade Média e, ainda, sobreviver na Renascença, o poder absoluto da fábula e da quimera se revelou pertinaz (CUNHA, 1884).

 

A monstrualização da mulher no período medieval é postulada na perspectiva de sua demonização, cujo período tende a interpretar as desviadas do padrão de comportamento moral estabelecido como feiticeiras, e, como por analogia ao diabo, acreditavam que poderiam transformar-se “a si mesmo ou os indivíduos em monstruosidades deturpadoras da ordem e normalidade divinamente regentes” (FONSECA, 2020, p. 15).

 

 Somente em 1605 Riolan, um anatomista britânico francês, indo contra as regras, aconselhou que sexdigitários, gigantes e anões deveriam somente ser isolados dos olhos da sociedade, todavia, outras anomalias deveriam ser mortas ao nascerem. Os contos fantásticos cheios de ilustrações exageradas e alteradas nas obras, como de Paré, eram baseados em fatos mal observados (CUNHA, 1884). Mas, longe de se tratar somente de um tratado sobre defeitos congênitos, segundo a doutora em línguas românticas Janis Pollister (1982), Ambroise Paré era um demonologista que exibia sua atitude fundamentalmente cristã acerca das anomalias, como também se mostra curioso acerca das formas e tamanhos infinitamente variados que a natureza apresenta, e como sua mecânica e anatomia funcionavam, as desordens e anomalias acidentais para ele significavam monstros e maravilhas (PALLISTER, 1982).  

 

 A dosagem de pessimismo e temor associada a figura feminina foi construída e conversada em diversas obras e documentos desde o tempo dos augúrios e oráculos, foi delegada a ela à culpa por crimes impossíveis, culpada por erros científicos (ROHDEN, 2000). Há registros de que mulheres foram queimadas após terem dado à luz a um monstro com cabeça de gato, certamente uma observação com base em superstições (CUNHA, 1884), tratava-se de uma erudição mitológica que não desejava ser contestada (SCHMITT-PANTEL, 2003, In: MATOS e SOIHET, 2003).

 

Somente nos primeiros anos do século XVIII é que esses juízos começam a se dissolver, gradualmente, na malha supersticiosa (CUNHA, 1884, p. 4). É nesse momento que os fatos mal observados começam a serem, efetivamente, estudados e avaliados com mais cuidado, aliás, a mudança dos juízos que sustentavam o fenômeno ótico e fantasmagórico, traduzindo corpos em aberrações, não dependeria somente dos que as formulavam, mas também dos que acreditavam, pois, “a vida das formas depende não apenas do lugar onde elas existem realmente mas também daquele onde elas são vistas e recriadas” (BALTRUSAITIS, 1999, p. 11).

 

O período denominado positivo é marcado pela novidade, por uma busca curiosa dos anatômicos que se dispõem em investigar os corpos dessas figuras consideradas monstruosas, de modo que, as primeiras exibições de fenômenos vivos ao longo do século XVIII estão ligadas a origem do teatro popular, desde do início do século XVII muitos comediantes constroem barracas e feiras sob condições concedidas pela igreja e o comércio para apresentarem marionetes, animais e curiosidades humanas, espetáculos e comércio viviam em harmonia, isso porque exista uma demanda aguda de diversão por parte do público das grandes cidades, podendo ser encontrado esses registros em tratados teratológicos, nas crônicas feirantes, mas também nas memórias e jornais de outrora (COURTINE, 2013). Além disso, agora, ao contrário de exigir a morte, a sociedade pagava para assistir as autópsias de crianças malformadas, e, no meio daquele alvoroço, havia alguns sábios que observavam com olhar mais apurado todo o procedimento, causas e padrões não percebidos. Alguns anatômicos, registraram em mínimos detalhes seus estudos em cadáveres e buscaram entrar em confronto com as antigas ideias que causaram prejuízo aos verdadeiros fatos (CUNHA, 1884, p. 5).

 

A partir da terceira fase há uma busca por encontrar e explicar as causas da monstruosidade, embora haja muitos erros ainda, julgando pelo atraso nos estudos sobre a embriologia, o conjunto de leis para a interpretação desses fatos viriam gradualmente mais tarde. De qualquer forma, a ideia que tinham sobre a monstruosidade ainda transitava no campo do fabuloso, como o fato da natureza desejar jogar com as formas de vida, quebrando a linearidade e uniformidade da biologia natural, além de que ainda atribuírem a imaginação da mulher os monstros recém-nascidos (CASTRO, 2015). Essa explicação, no entanto, já era muito pueril e pouco convincente para muitos já nessa época. Surge, então, dois sistemas para explicar, advindos de dois autores, Winslow com a teoria da “preexistencia” e Lemery em defesa do sistema oposto (CUNHA, 1884, p. 6).

 

A doutrina da “preexistência” ganhou muitos apoiadores anatomistas e fisiologistas até os dias atuais (BOTELHO, 2007), e o primeiro naturalista chamado Swammerdam, que aplicou o microscópio para estudar as fases, organizações e metamorfoses dos insetos, por analogia, observou primeiro os vegetais e ovos e, posteriormente, incluindo os seres humanos, chegou a uma conclusão generalizada, de que todo ovo conteria as informações de todas as gerações que devem suceder, ou seja, julgou ter visto o estado último da evolução de cada um dos insetos pela observação, de modo que a embriogenia se reduzia, então, ao fato de não existir evolução, e, sim, ao aumento do volume de órgãos já preexistentes (CUNHA, 1884). Jaques Roger (1971) define o termo preexistência para se referir a ideia de encaixotamento, ou seja, a ideia de que existe um pequeno ser dentro do ovo e dentro dele existe outro ser, e assim por diante, a teoria postula que há uma formação instantânea do embrião, seja ela no interior dos pais ou quando óvulo é fertilizado, seria nesse momento que seria decisivo o nascimento de uma pessoa normal e de uma anormal, em termos físicos e mentais (ROGER, 1971).

 

Essa teoria da Preformação foi moldada, inicialmente, por um padre cartesiano, cujo interesse estava mais voltado para a discussão da moral e do pecado, do que com a reprodução. O trabalho desse padre francês acabou contribuindo para teorias cartesianas, seus volumes acabaram por servi de esboço para o que viria a ser conhecido por Psicologia. Segundo ele existem muitas substâncias no corpo que são imperceptíveis, afirma que o sentido mais importante é a visão, mas que os olhos podem enganar, e “as coisas não são como aparentam ser para nós[...]”. Assim, o padre afirmou que as crianças já eram completamente formadas e o período gestacional só serviria para seu crescimento necessário (CORREIA, 1998, p. 51).

 

O sistema que se opunha a esse foi o da epigênese que se fundamentava na teoria de formação e desenvolvimento das partes dos seres vivos após a fecundação, a “ epigênese é representada pelos ciclos sucessivos de ativação gênica específica” (CERDÁ-OLMEDO, 1998, p. 236). A questão substancial, no entanto, era pleitear sobre como se dava a origem dos monstros na teoria da preexistência. Para Lemery, as malformações eram um efeito acidental, eram funções mecânicas que afetavam organizações normais, todavia essas ainda eram explicações muito vazias, havia a necessidade de ir mais afundo, queriam entender a inversão de vísceras, monstros compostos, inserções musculares novas, dentre outras diversas anomalias. O fato é que embora a teoria da preexistencia tenha se sobressaído, seria impossível, com o tempo, se sustentá-la (CUNHA, 1884).

 

A teoria da regeneração interna dos órgãos que aparece com Trembley dificultou para Winslow se explicar, mas não impossível, pois rapidamente a considerou como fenômeno de geração. Após o tumulto, foi pelas observações do alemão Caspar Friedrich Wolff (1733-1794) que se pode perceber a vulnerabilidade da doutrina, quando constatou a formação do tubo intestinal, afirmando que o tubo digestivo não preexiste, e, sim, se constitui pela modificação e adaptação a partir de substâncias embrionárias, o que será chamada de blastoderme (ROE, 1979). Assim, há a substituição da doutrina pela epigênese. Desse modo, evidentemente, as causas das monstruosidades poderiam ser explicadas, constituiriam desvios no processo de formação dos órgãos, uma vez que, “estas deviam formar-se em certas epochas do desenvolvimento embrionário” mas “em consequência d'uma modificação na evolução normal do organismo” resultam em seres biologicamente diferentes (CUNHA, 1884, p. 12).

 

Referências biográficas

 

Dr. Christian Fausto Moraes dos Santos, Universidade Estadual de Maringá.

 

Gessica de Brito Bueno, acadêmica do curso de História na Universidade Estadual de Maringá.

 

Referências bibliográficas

 

ABREU, Jean Luiz Neves. Os estudos anatômicos e cirúrgicos na medicina portuguesa do século XVIII. REVISTA DA SBHC, Rio de Janeiro, v. 5, n. 2, p. 149-172, jul | dez 2007. Disponível em:< http://www.sbhc.org.br/resources/download/1320064407_ARQUIVO_artigos_3.pdf>. Acesso em: 2 de Nov 2021.

 

ARAÚJO, Emanuel. A arte da sedução: sexualidade feminina na Colônia. In: DEL PRIORE, História das mulheres no brasil. . 7. ed. - São Paulo: Contexto, 2004.

 

BALTRUSAITIS, Jurgis. Aberrações: ensaio sobre a lenda das formas. Tradução de Vera de Azambuja Harvey. Rio de Janeiro: Editora UFRJ, 1999.

 

BOTELHO, João Francisco. Epigênese radical: a perspectiva dos sistemas desenvolvimentistas. Dissertação de mestrado, Florianópolis, 2007. Disponível em:<https://www.researchgate.net/publication/280628459_Epigenese_radical_A_perspectiva_dos_sistemas_desenvolvimentais>. Acesso em: 9 de Jan 2022.

 

CASTRO, Olivia Marinho. A apropriação da monstruosidade pelo saber médico. Dissertação de mestrado. Rio de Janeiro, 2015. Disponível em:< https://www.bdtd.uerj.br:8443/bitstream/1/4332/1/Olivia%20Castro%20versao%20final%20com%20ficha%20corrigida.pdf>.  Acesso em: 10 de Dez 2021.

 

CERDÁ-OLMEDO, E. The development of concepts on development. International Jornal of Developmental Biology, v.42, p.233-236. 1998.

 

COELHO, Ronaldo Simões. O Erário Mineral divertido e curioso: a arte de curar. In: FURTADO, Júnia Ferreira (org.). Erário Mineral de Luís Gomes Ferreira. Belo Horizonte; Rio de Janeiro: Fundação João Pinheiro, Centro de Estudos Históricos e Culturais; Oswaldo Cruz, 2002.

 

CORREIA, Clara Pinto. O ovário de Eva. 1998.

 

COURTINE, Jean-Jacques. O corpo anormal: história e antropologia culturais da deformidade. In: CORBIN, A; COURTINE, J; VIGARELLO, G. História do corpo 3. As mutações do olhar: O século XX.4ª Edição, Petrópolis: Vozes, 2008, pp. 253-340.

 

COURTINE, Jean-Jacques. Uma arqueologia da curiosidade: o teatro dos monstros no século XVIII. In: COURTINE, Jean-Jacques. Decifrar o corpo. Editora Vozes, Petrópolis, RJ, VOZES, 2013.

 

CUNHA, Bernardo Joaquim da Silva e. Um capítulo de teratologia: breves considerações sobre as causas e modo de formação das anomalias. Dissertação inaugural; Escola médico- cirúrgica do Porto. Typhografia Occidental, 1884. Disponível:< https://repositorioaberto.up.pt/bitstream/10216/16873/3/36_7_EMC_I_01_P.pdf> Acesso em: 11 de Jan 2022.

 

DEL PRIORE, Mary. História das mulheres no Brasil. (Org) Carla Bassanesi. 7. ed. –São Paulo: Contexto, 2004. Disponível em: <https://books.google.com.br/books?hl=ptBR&lr=&id=8KgRl5ZvX8wC&oi=fnd&pg=PA7&dq=Mary+del+priore+2004&ots=Nt2JQNYNYU&sig=y2s2pUdi662NjmaUiGwYTrJdIE&redir_esc=y#v=onepage&q=Mary%20del%20priore%202004&f=false>. Acesso em: 20 de Jan 2022.

 

FERREIRA, Luiz Gomes Ferreira. Advertência aos ignorantes e mulheres depravadas. 2002. In: In: FURTADO, Júnia Ferreira (org.). Erário Mineral de Luís Gomes Ferreira. Belo Horizonte; Rio de Janeiro: Fundação João Pinheiro, Centro de Estudos Históricos e Culturais; Oswaldo Cruz, 2002.

 

FONSECA, Pedro Carlos Louzada. O demoníaco no imaginário misógino e teratológico medieval: algumas representações. Todas as Musas. ISSN 2175 – 1277, Ano 11, Número 02, Jan-Jun, 2020. Disponível em:<https://www.todasasmusas.com.br/22Pedro_Carlos.pdf.> Acesso em: 10 de Jan 2022.

 

LEAL, Ondina Fachel. Sangue, fertilidade e práticas contraceptivas.1994. In: ALVES, PC., and MINAYO, MCS., orgs. Saúde e doença: um olhar antropológico [online]. Rio de Janeiro: Editora FIOCRUZ, 1995. Disponível em:< http://books.scielo.org/id/tdj4g/pdf/alves-9788575412763-11.pdf>. Acesso em: 10 de Jan 2022.

 

MIRANDA, Carlos Alberto Cunha. A arte de curar nos tempos da colônia. 3ªedição, revista ampliada e atualizada, Editora UFPE, Recife, 2017.

 

PALLISTER, Janis L. Ambroise Paré on monsters and marvels. The University of Chicago and London. 1982.

 

POLETTO, Roberto. Continuidades e avanços nos saberes médicos na Europa da primeira metade do século XVIII: uma análise dos Tratados Médicos de Ayala (1705) e Sanz de Dios (1730). Revista Brasileira de História & Ciências Sociais.Vol. 3 Nº 6, Dezembro de 2011. Disponível em:< https://periodicos.furg.br/rbhcs/article/view/10460>.  Acesso em: 10 de Jan 2022.

 

PORTER, Roy, VIGARELLO, Georges. Corpo, saúde e doenças: In: CORBIN, Alain, COURTINE, Jean-Jacques, VIGARELLO, Georges. "História do corpo." Rio de Janeiro: Vozes 2. 2008.

 

ROE, S. A. Rationalism and embryology: Caspar Friedrich Wolff's theory of epigenesis. Journal of the History of Biology, v.12, n.1, p.1-43. 1979. Disponível em:< https://link.springer.com/article/10.1007/BF00128134>. Acesso em: 10 de Jan 2022.

 

ROGER, Jaques. Les sciences de la vie dans la pensée française du XVIIIe siècle: la génération des animaux de Descartes à l'Encyclopédie. Paris: Armand Colin. 1971.

 

ROHDEN, Fabíola. Uma ciência da diferença: sexo, contracepção e natalidade na medicina da mulher. Rio de Janeiro, 2000.

 

SCHMITT-PANTEL, Pauline. "A criação da mulher": um ardil para a história das mulheres? 2003. In: MATOS, Maria Izilda S. de. SOIHET, Rachel. O corpo feminino e debate. 2003. Pp. 129-156. Disponível em:< https://periodicos.ufsc.br/index.php/ref/article/view/S0104-026X2004000200017>. Acesso em: 10 de Jan 2022.

16 comentários:

  1. Parabéns pelo trabalho Gessica!!
    O assunto da teratologia, de fato, é pouco explorado ainda, tendo em vista os poucos artigos publicados sobre. Minha pergunta é: você pretende trabalhar mais sobre a teratologia em futuros trabalhos, sob o aspecto do tema da menstruação?
    Taynara Isis Nascimento.

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    1. Muito Obrigado Taynara!
      E sim, pretendo trabalhar sobre esse assunto na minha dissertação no mestrado, abordar
      as diversas teorias e concepções que se tinha a respeito do sangue menstrual, sangue
      visto como causador de diversas moléstias, desde nascimento de anomalias até como
      sangue que causa transtornos mentais.
      Atenciosamente,
      Gessica de Brito Bueno.

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  2. Olá Tudo bem ?
    Achei as Informações muito interessante, pois não conhecia essa construção informativa e construtiva sobre o tema abordado, e como o ser humano repudia aquilo que não compreende, logo podemos dizer que o medo é desconhecido e o desconhecido seria o medo? KKK
    Em fim, aqui vai minha pergunta, hoje sabemos que muitas famílias ainda não trata de alguns assuntos tanto quanto complexo sobre o tema mas mais por seu caráter constrangedor, principalmente quando jovens oque vc acha que poderia ser feto para acabar com esse estigma que por ventura possui grandes consequências?

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  3. Olá Tudo bem ?
    Achei as Informações muito interessante, pois não conhecia essa construção informativa e construtiva sobre o tema abordado, e como o ser humano repudia aquilo que não compreende, logo podemos dizer que o medo é desconhecido e o desconhecido seria o medo? KKK
    Em fim, aqui vai minha pergunta, hoje sabemos que muitas famílias ainda não trata de alguns assuntos tanto quanto complexo sobre o tema mas mais por seu caráter constrangedor, principalmente quando jovens oque vc acha que poderia ser feto para acabar com esse estigma que por ventura possui grandes consequências?
    Jonathan Rodrigues

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    1. Boa tarde Jonathan! Tudo bem!
      Acredito que para acabar aos poucos com esse estigma em relação ao fenômeno da menstruação, bem como, tudo que envolve o corpo feminino, tudo começa pela educação e o que se pretende ensinar nas aulas de história, por exemplo, pois o professor de história está em uma posição que privilegia o estudo de gênero e as demais discussões que abarcam a história da medicina e da ciência. A mudança começa no ensino depois parte para uma esfera social mais ampla, que vai envolver as famílias e a sociedade em geral. Espero ter conseguido responder sua pergunta.
      Att.
      Gessica de Brito Bueno.

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  4. Parabéns pelo trabalho Gessica!
    O fenômeno da menstruação é realmente um assunto interessante para se pensar quando percebemos que a medicina estava ainda embasada nos princípios terapêuticos da Teoria Humoral até o século XVIII. Minha pergunta é sobre o nascimento de monstros: esse cirurgião que você cita fala alguma coisa sobre ele acreditar que pessoas com anomalias nasceriam da relação sexual, estando a mulher menstruada? Ele acredita nessa teoria, bem como, os médicos da época?

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  5. Parabéns pelo trabalho Gessica!
    O fenômeno da menstruação é realmente um assunto interessante para se pensar quando percebemos que a medicina estava ainda embasada nos princípios terapêuticos da Teoria Humoral até o século XVIII. Minha pergunta é sobre o nascimento de monstros: esse cirurgião que você cita fala alguma coisa sobre ele acreditar que pessoas com anomalias nasceriam da relação sexual, estando a mulher menstruada? Ele acredita nessa teoria, bem como, os médicos da época?
    Isamara Samira Ibrahim Felix

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    Respostas
    1. Boa tarde Isamara! Muito obrigado!
      Então, tanto os físicos quando os cirurgiões acreditavam sim, porque mesmo que os
      cirurgiões, no início do século XVIII, abrissem corpos, tendo mais liberdade para isso
      nas colônias, já que na metrópole de Portugal era proibido por questões religiosas, ainda
      que ele abrisse corpos, eles ainda não estavam inteirados dos avanços anatômicos
      isolados que estavam acontecendo em outras partes do ocidente, como era o caso da
      Holanda, França e Itália. Logo, os médicos, físicos e cirurgiões, acreditavam sim que
      havia uma ligação entre o sangue menstrual e o nascimento de anomalias, essa era o
      regime de saúde até fins do século XVIII, embora houvesse ainda adeptos dessa teoria
      no XIX.
      Atenciosamente,
      Gessica de Brito Bueno.

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  6. Mauren Gabriele Bitencourt Ventura14 de setembro de 2022 às 17:18

    Parabéns pelo artigo, Gessica! Achei extremamente interessante.
    Gostaria de saber se ao longo da história as concepções dos povos não europeus a respeito da menstruação influenciaram os pensamentos e também as crenças médicas europeias sobre a menstruação?

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    1. Bom dia Mauren! Obrigado!!
      Então, as curandeiras, mulheres negras escravas e indígenas, que moravam na colônia mineira, possuíam conhecimentos sobre como tratar seus próprios corpos, mas era um saber informal, advindo de experiências, transmitido de mãe para filha, esse saber era executado por elas na ilegalidade, se constituindo como necessário para a sobrevivência dos costumes e das tradições femininas. Elas conjuravam espíritos e usavam palavras mágicas, bem como, as ervas encontradas nas colônias, fazendo isso para afastar as entidades malévolas, elas acreditavam que as doenças possuíam uma origem sobrenatural, para tratar dificuldades na menstruação elas usavam também uma terapêutica clássica, mas também popular, mágica ou sugestiva. As mulheres recorriam a curas informais, eram elas que, por meio de fórmulas gestuais e orais ancestrais, resgatavam a saúde.
      Espero ter respondido a sua pergunta.
      Att.
      Gessica de Brito Bueno

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    2. Dito isso, o conhecimento que elas tinham não era considerado formal ou erudito, era considerado vulgarizado pelos médicos e cirurgiões que vinham da metrópole, apesar de muito do conhecimento que eles aprenderam durante o período que estiveram na colônia, tenha sido por intermédio de indígenas, por exemplo, ele alegavam que era ilegal e contendo muita superstição. Eles só absorviam o que era cabível a eles, como foi o caso da Triaga Brasílica, para tratar menstruações atrasadas, bem como, alguém cometido de envenenamento, pediam apenas que Deus os ajudasse, pois eram católicos e os seus manuais também precisavam ser aprovados pelo Santo Ofício da igreja católica para serem liberados para venda.
      Gessica de Brito Bueno.

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  7. Ótimo artigo, Gessica! Sua escrita está cada vez melhor.
    A minha pergunta é a seguinte:
    Já que a menstruação era considerada um "desequilíbrio interno constante", é possível dizer se os pensadores e a sociedade da época consideravam esse "desequilíbrio" como um castigo dado a mulher por causa dos feitos de Eva, vontade de deus ou algo algo do tipo?
    João Primon.

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    1. Bom dia João! Obrigado :))
      E com certeza, a bíblia foi revisitava inúmeras vezes, tanto por médicos quanto pela população do XVIII, como fonte primeira que afirmaria que as dores do parto, bem como, a menstruação e a inferioridade da mulher em relação ao homem, era culpa da Eva, no Jardim do Edem, por ter comido a maçã e desobedecido a Deus.
      Att,
      Gessica de Brito Bueno.

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  8. Olá, Gessica. Parabéns pela pesquisa.
    A minha pergunta é: você pretende estudar mais a fundo a teratologia e sua relação com a menstruação e as anomalias?

    Rodrigo Perles Dantas.

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    1. Olá Rodrigo!
      Muito obrigado!
      Eu pretendo sim, criar um subcapítulo sobre esse assunto para discorrer mais sobre a relação da menstruação com o nascimento de anomalias.
      Att.
      Gessica de Brito Bueno

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