Fernanda dos Anjos da Nóbrega

QUEERBAITING: ESTRATÉGIAS MIDIÁTICAS E REPRESENTATIVIDADE LGBTQIA+ EM SÉRIES TELEVISIVAS

 

Fernanda dos Anjos da Nóbrega

 

A televisão foi algo particular de cada país por muitos anos; o que era transmitido em tela e, consequentemente, o que as pessoas assistiam e tinham acesso variava muito de país para país. Aos poucos, a globalização adentrou também a ionosfera, e produções norte-americanas alcançavam escala global. Hoje, apesar da televisão aberta ainda ser inerente a cada país, os conteúdos televisivos são de acesso universal devido aos streamings e outras formas de acesso na internet. Redes de streaming como a Netflix, Amazon Prime, HBO e etc. mudaram a forma como consumimos televisão e o audiovisual no geral.

 

No Brasil, onde há uma década, as séries televisivas norte-americanas ou britânicas eram populares apenas em nichos específicos de público, hoje são de acesso quase ilimitado em território nacional. O alcance da televisão estadunidense se estende pelo mundo todo e é comum que essas séries e programas de TV sejam parte do cotidiano brasileiro.

 

Com a popularização de produtos estadunidenses principalmente entre o público jovem e adolescente, também veio a febre dos fandoms televisivos. Um fandom é basicamente a ‘fã-base’ de determinado agente da cultura pop no geral, seja de nicho musical, televisivo, audiovisual ou de literatura. Ter um fandom consolidado é garantia de que o produto midiático em questão esteja sempre em alta e continuamente vendendo, mesmo que apenas para aquele nicho em específico.

 

Um dos elementos mais potentes para conseguir manter uma fã-base fiel ou ainda, criar novos fãs, é o par romântico. Muitas produções televisivas já se apoiaram em pares românticos populares por anos como uma maneira de manter os fãs – ou até mesmo mudaram a história original porque um casal não planejado agradou ou não o público. É o caso da famosa sitcom Friends (1994–2004), em que o par romântico entre os personagens Monica e Chandler não estava originalmente nos planos, porém, com a aclamação entusiástica do público, os roteiristas resolveram fazê-los um casal e assim permaneceram até o final da série (VOLTURE, 2019).

 

A cultura dos ‘shipps’– termo dado a um casal fictício (ou não) – vem da identificação do público com os romances em tela, e o shipp às vezes se torna mais interessante de se acompanhar do que o restante da história em si. Isso acontece muito entre adolescentes e atinge principalmente o público feminino. Com a popularidade do Tumblr em meados de 2010, era muito comum haver diversos fóruns e páginas dedicadas a esses casais. Aos poucos, o Tumblr tornou-se um refúgio para os adolescentes dos anos 2000, onde podiam falar sobre suas paixões sem medo. Esse hábito se popularizou também e, talvez principalmente, entre os adolescentes LGBTQIA+.

 

Em uma época onde a representação LGBTQIA+ na mídia era mínima, é compreensível que jovens LGBTQIA+ buscassem representatividade em pares que não existiam canonicamente – pelo menos não de forma explícita. O marketing voltado para fandoms – principalmente quando se fala de fandoms de shipps específicos LGBTQIA+ - pode ser considerado uma extensão do chamado por Naomi Klein (2002) de marketing de identidade. O marketing da identidade ou da diversidade é, além de um tipo de marketing, uma estratégia que usa da necessidade de representatividade de certos grupos sociais para vender seus produtos – seja qual forem.

 

Quando se faz uso do queerbaiting, os produtores estão usando do clamor por representatividade de relacionamentos LGBTQIA+ como forma de atrair esse público, mas, sem perder uma outra parcela da audiência que não gostaria de ver essas mesmas representações.

 

Segundo Judith Butler, “O termo queer surge como uma interpelação que levanta a questão do lugar de força e oposição, estabilidade e variabilidade, dentro da performatividade. O termo "queer" funcionava como uma prática linguística cujo propósito era envergonhar o sujeito que dá nome, ou melhor, produzir um sujeito através dessa interpelação humilhante. A palavra "queer" adquire sua força precisamente a partir da invocação repetida que acabou ligando-a com a acusação, a patologização e o insulto. [...] Na verdade, o termo "queer" em si foi precisamente o ponto de encontro de lésbicas e gays mais jovens e, em outro contexto, intervenções lésbicas e, ainda em outro contexto, heterossexual e bissexual para quem o termo expressa uma filiação a políticas anti-homofóbicas.” (BUTLER, 2002, p. 318)

 

Como um conceito, queer assume o não ser. Guacira Lopez Louro define queer como mais do que uma nova posição de sujeito ou um lugar social estabelecido, queer indica um movimento. Supõe a não-acomodação, admite a ambiguidade, o não-lugar, o trânsito, o estar-entre. (LOURO, 2008).

 

Assim, do inglês baiting que quer dizer ‘isca’ e Queer no sentido de cultura ou pessoas fora do espectro heterossexual e cisgênero, queerbaiting, em uma tradução literal, seria algo como ‘isca de queer’ – em outras palavras, o ato de ‘jogar iscas’ para atrair os peixes que, no caso, são a população LGBTQIA+ e simpatizantes.

 

O termo em si é, ao mesmo tempo, um conceito e uma condição de nosso momento histórico. Judith Fathallah (2015) define o termo por “uma estratégia pela qual escritores e marcas tentam ganhar a atenção do público LGBTQIA+ através de insinuações, piadas, gestos e simbolismo no geral sugerindo um relacionamento queer entre dois personagens e, então, negando enfaticamente e rindo da possibilidade” (FATHALLAH, 2015, p. 491, tradução livre).

 

É quase impossível traçar o primeiro uso da palavra queerbaiting, mas, o termo nesse sentido surgiu, antes de aparecer entre acadêmicos, na esfera do Tumblr e LiveJournal em meados de 2010.

 

O uso de queerbaiting na televisão e no cinema é muito mais comum do que se imagina. Seu uso é feito através de códigos de linguagem cinematográfica que passam despercebidos pelos mais conservadores, mas, que serão entendidos pelo público desejado. Na realidade, é quando os roteiristas colocam todas as dicas e códigos possíveis indicando que um par romântico LGBTQIA+ se formará e, na prática, isso nunca acontece. Alguns dos exemplos mais enfadonhos de uso de queerbaiting são as séries Sherlock da BBC, Supernatural (CW network) e Teen Wolf.

 

Para entender porque o queerbaiting está quase enraizado no audiovisual ocidental como um todo, precisamos entender um pouco sobre a história LGBTQIA+ na televisão e, claro, no cinema.

 

O cinema estadunidense passou por algumas “Eras” em sua história no século XX. O que nos interessa aqui é o intervalo aproximado entre 1932 e 1950, período marcado pela vigoração Código de Produção de Cinema (Motion Picture Production Code) que ficou popularmente conhecido como ‘Código Hays’.

 

O código Hays veio como uma resposta a imagem em decadência da ‘Hollywood do pecado’ dos anos 1920. Como uma tentativa de retomar a boa imagem do cinema perante o público (NAZÁRIO, 2007), o Código estipulava diversas regras a serem seguidas na produção cinematográfica de modo a não ferir os valores estadunidenses da época. Valores estes que se baseavam muito na ideia de moral cristã e que renegava diversas práticas e tipos de sujeitos – como as pessoas fora do espectro heterossexual. Segundo o próprio Código, “nenhuma película deveria jamais ‘abaixar os valores morais de quem a vê’ e ‘a simpatia da audiência não deve nunca ser direcionada ao crime, transgressão, mal ou pecado” (E.U.A, MOTION PICTURE PRODUCTION CODE, 1930).

 

Embora o Código não fosse uma lei, no sentido de legislação, sua sanção tornava praticamente impossível que um filme fosse distribuído se não estivesse dentro das regras do código e, assim, tornava-se praticamente uma lei para qualquer cineasta que quisesse que seus filmes fossem distribuídos. Com o Código tornando quase impossível que pessoas fora do espectro heterossexual cisgênero fossem representadas livremente, alguns cineastas começaram a incluir personagens LGBTQIA+ ou sugestões de que esses personagens fossem LGBTQIA+ de forma implícita, através do que ficou conhecido como queercoding – ou ‘códigos queer’.

 

Filmes como Bem-Hur (1959), De repente, no último verão (1959) e Juventude Transviada (1955) estão carregados de códigos queer que, podem não ser percebidos por todo o público, mas, definitivamente são apreciados pelo público a quem se destinam – os/as LGBTQIA+ (SOMERTON, 2020).

 

Aqui, é importante ressaltar que há uma diferença fundamental entre queercoding e queerbaiting. Embora ambos utilizem de códigos de linguagem cinematográfica para insinuar personagens fora do aspecto heterossexual, o motivo pelo qual se faz uso dessas ferramentas narrativas é bem diferente.

 

Enquanto queercoding existiu numa época de censura em que a única forma de trazer personagens LGBTQIA+ era através de códigos, queerbaiting vem em um contexto em que não é proibido mostrar esses personagens – porém, há risco de perda de lucratividade. Ou seja, enquanto queercoding era uma técnica utilizada muitas vezes por profissionais que também eram LGBTQIA+, como uma forma de se conectar com o público LGBTQIA+ do jeito em que podiam, queerbaiting é nada mais que uma jogada de marketing, sem nunca trazer uma representatividade real para um público específico, enquanto joga ‘iscas’ para que esse público não perca o interesse.

 

Tratando-se de ferramentas narrativas de linguagem audiovisual, o francês Christian Metz entende que a narrativa cinematográfica como conhecemos se compõe verdadeiramente após a montagem; só então, é possível estabelecer uma relação de narrativa, da história sendo contada. Até a montagem final, o produto audiovisual passa por uma longa série de etapas, em que se pensa desde na iluminação de cada cena até o tipo de som de fundo que a cena terá, entre muitos dos processos da produção audiovisual.

 

A linguagem cinematográfica, portanto, vai além da imagem como está sendo mostrada. Cenário, iluminação, diálogos, etc. são o que estão na tela concretamente, porém, atribuir significado a narrativa cinematográfica não é função apenas do cineasta. Na realidade, segundo Metz, era necessário que se fizesse uma reavaliação dessa figura autoral no cinema, entendendo-se que quem assiste também tem um papel fundamental na hora de atribuir significado a obra. Assim, “o cinema é feito para os espectadores, por isso, a semiótica do cinema é, por vezes, levada a colocar-se do lado do/a espectador/a mais do que do/a cineasta” (METZ, 1972, p. 121).

 

Tais códigos são usados de forma particular de cada cineasta, porém, existem recursos narrativos recorrentes na produção audiovisual. Códigos cinematográficos para retratar pares românticos, por exemplo, são muito comuns. A trilha sonora, o ângulo, a entonação do texto, o conjunto visual em si para retratar o romance – todos esses elementos são parte de códigos de linguagem. Assim, é possível reconhecer os usos de determinados elementos quando consumimos um produto audiovisual.

 

Dessa forma, a prática de queerbaiting veio a tona nas discussões de fóruns de fandom. Parte do público de algumas séries estadunidenses começou a notar o uso de queerbaiting justamente por essas práticas narrativas comuns em narrativas de romance que eram usadas em dois/uas personagens do mesmo sexo que supostamente eram heterossexuais. Sexualidade ambígua junto com subtextos que sugerem algo potencialmente romântico entre dois/uas personagens do mesmo sexo, o uso de tropes românticas conhecidas e o evitar menções explícitas de heterossexualidade são algumas características da técnica de queerbaiting.

 

Hoje, a discussão sobre queerbaiting saiu um pouco da bolha de fóruns de fãs. O último episódio de Supernatural, em novembro de 2020, trouxe o assunto novamente à tona, e a insatisfação dos/as fãs pelo modo como os/as produtores/as lidaram com os personagens gerou discussões por toda a internet. Recentemente, a série Supergirl também foi encerrada sem abordar o romance ‘codificado’ de Lena Luthor e Kara Danvers, o que desagradou à parcela de fãs que esperavam um final diferente (HARRINGTON, 2021).

 

O aumento percebido em queerbaiting pode indicar uma mudança em direção a uma percepção mais positiva das relações queer nas sociedades modernas, mas, ao mesmo tempo, a mesma mudança social também aumentou as expectativas dos fãs queer quanto à qualidade e autenticidade da representatividade LGBTQIA+ - nós exigimos não apenas qualquer representação, mas sim representações respeitosas e significativas de seus relacionamentos.

 

O ponto é que não há mais ‘desculpas’ para uma prática como queerbaiting atualmente. Entre as décadas de 1930 e 1970 Cineastas utilizavam personagens queer de forma codificada porque era a única forma deles existirem sem as produções serem boicotadas ou engavetadas – não é mais a realidade em que vivemos. Ou seja, queerbaiting é escolher utilizar de piadas e insinuações ao invés de simplesmente colocar representatividade de verdade nas produções televisivas. Em um mundo capitalista, as marcas vão sim se aproveitar das nossas pautas e tentar transformar nossa luta em dinheiro, mas, isso não torna nossas lutas menos válidas. Identificar práticas como queerbaiting e não se calar em vista das mesmas é o primeiro passo para que, talvez, no futuro, elas não sejam mais necessárias.

 

Referências biográficas

 

Fernanda dos Anjos da Nóbrega é graduada em História pela Universidade Federal do Mato Grosso do Sul, campus de Nova Andradina.

 

Referências bibliográficas

 

BUTLER, Judith. Acerca del término “queer”. In: BUTLER, Judith. Cuerpos que inportan. Sobre los límites materiales y discursivos del “sexo”. Buenos Aires: Paidís, 2002. p. 313-339.

 

FATHALLAH, Judith. “Moriarty’s Ghost: Or the Queer Disruption of the BBC’s Sherlock,” Television & New Media 16, no. 5 (2015): 491.

 

HARRINGTON, Delia. Supergirl Finale: ‘Supercorp’ Are Just Gals Being Pals. Den of Geek, 2021. Disponível em: https://www.denofgeek.com/tv/supergirl-series-finale-supercorp-kara-lena/ Acesso em: 11/11/2021

 

KLEIN, Naomi. Sem logo: a tirania das marcas em um planeta vendido. São Paulo: record. 2002.

 

LOURO, G. L. O “estranhamento” queer”. Labrys, Estudos Feministas, 2007.

 

METZ, Christian. A Significação no Cinema. Perspectiva. Coleção: DEBATES - Vol. 54 2ªed. (1972).

 

UNREQUITED: The History of Queerbaiting. Produção: James Somerton. Roteiro: James Somerton. Estados Unidos, 2020. YouTube. 90 min. Disponível em: https://www.youtube.com/watch?v=4Nx1aD9Khg0&ab_channel=JamesSomerton Acesso em: 20/10/2021

 

VOLTURE, 2019.  “How Friends Decided to Pair Off Monica and Chandler”. Disponível em: https://palavracheia.wordpress.com/2014/01/08/monica-chandler-vulture/ Acesso em: 15/10/2021

5 comentários:

  1. Boa tarde! Gostei muito do tema do seu trabalho. Gostaria de saber sobre como você analisa esse aumento do número de pessoas daqui do Brasil que estão a todo momento fiscalizando e divulgando vídeos e/ou mensagens discriminando algum conteúdo presente nas plataformas de streaming que estão relacionados a orientação sexual, ou identidade de gênero. Você pesquisou algum material e/ou dados sobre isso?

    Atenciosamente, Edivaldo Rafael de Souza.

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    1. Boa tarde, Edvaldo! Que bom que gostou!
      Admito que não compreendi muito bem a questão, mas, de qualquer maneira, não pesquisei dados ou nenhum material sobre o assunto, então sinto em não poder responder. Um abraço!

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  2. Boa tarde! A pauta trazida em sua produção é super necessária e contemporânea. Como deixou afinco em sua produção que o conceito vem sendo estudado bastante em relação a filmes e séries. Uma série recentemente também acusada de queerbaiting é Stranger Things, onde o personagem de Will, não apresenta uma sexualidade definida, apesar de sub-entender que seja gay. No entanto esse conceito de marketing, também está sendo usado por artistas musicais, como no caso do Harry Styles, que possui uma identidade fluida, e sem nunca assumir sua própria sexualidade e preferências. Embora a identidade fluida é carácter do sujeito pós- moderno, segundo Bauman. No entanto queria saber de você autora, em suas pesquisas, qual a melhor maneira de apresentar uma identidade fluida em relação a questão cinematográfica, filmes, séries e outros, trazendo para o espectador uma representatividade de sujeitos plurais e sem rótulos, sem cometer ou ser acusado de queerbaiting?

    Att; Leandro Cordeiro da Silva

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    1. Boa tarde, Leandro! Obrigada por sua pergunta, esse é um assunto bem discutido na esfera cinematográfica de fandons. No meu trabalho de monografia, eu comento um pouco mais à fundo sobre isso. No caso, eu vejo que queerbaiting tem muito a ver com a relação entre obra, produtores e fandom. No sentido de que como os(as) produtores(as) lidam com os shipps e com a produção de subtexto e, ainda, se as obras em questão possuem personagens LGBTQIA+, ajudam a compreender se há ou não uso de queerbaiting.
      Eu particularmente acho importante termos personagens de identidades e/ou sexualidades fluídas sem necessariamente que essa característica de suas identidades seja o principal sobre tais personagens. Um exemplo, para mim, de série que abordam personagens de sexualidades fluídas sem estar necessariamente explícito, mas, sem fazer queerbaiting, é a série Hannibal, pois, a relação entre os personagens principais é construída lentamente, mas, é reconhecidamente (pelo roteiro) romântica.
      No caso de queerbaiting, conseguimos reconhecer a prática, pois, se trata de insinuações (geralmente de cunho sexual e estereotipado) ou piadas com intuito de gerar buzz e marketing, sem a intenção de concretizar o suposto romance LGBTQIA+ em nenhum momento.
      Você citou o WIll de stranger things e, pessoalmente, não acho que o will é um caso de queerbaiting. Mas, eu particularmente não gosto desse arco (praticamente comprovado) dele apaixonado pelo Mike porque é uso de uma trope televisa que eu não gosto que é a do "unrequited love", ou "amor do correspondido". Sério, menino gay apaixonado pelo amigo hétero é só uma trope muito batida mesmo.
      Enfim, acho que é mais do que possível trazer representividade subjetiva (como Hannibal, good omens, etc.) sem fazer uso de queerbaiting, que é uma prática intencional que usa a audiência LGBTQIA+ por marketing, sem representatividade de verdade.
      Espero que eu tenho respondido satifastoriamente, e obrigada!

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    2. (Estou republicando porque tinha colocado como anônimo, perdão)
      Boa tarde, Leandro! Obrigada por sua pergunta, esse é um assunto bem discutido na esfera cinematográfica de fandons. No meu trabalho de monografia, eu comento um pouco mais à fundo sobre isso. No caso, eu vejo que queerbaiting tem muito a ver com a relação entre obra, produtores e fandom. No sentido de que como os(as) produtores(as) lidam com os shipps e com a produção de subtexto e, ainda, se as obras em questão possuem personagens LGBTQIA+, ajudam a compreender se há ou não uso de queerbaiting.
      Eu particularmente acho importante termos personagens de identidades e/ou sexualidades fluídas sem necessariamente que essa característica de suas identidades seja o principal sobre tais personagens. Um exemplo, para mim, de série que abordam personagens de sexualidades fluídas sem estar necessariamente explícito, mas, sem fazer queerbaiting, é a série Hannibal, pois, a relação entre os personagens principais é construída lentamente, mas, é reconhecidamente (pelo roteiro) romântica.
      No caso de queerbaiting, conseguimos reconhecer a prática, pois, se trata de insinuações (geralmente de cunho sexual e estereotipado) ou piadas com intuito de gerar buzz e marketing, sem a intenção de concretizar o suposto romance LGBTQIA+ em nenhum momento.
      Você citou o WIll de stranger things e, pessoalmente, não acho que o will é um caso de queerbaiting. Mas, eu particularmente não gosto desse arco (praticamente comprovado) dele apaixonado pelo Mike porque é uso de uma trope televisa que eu não gosto que é a do "unrequited love", ou "amor do correspondido". Sério, menino gay apaixonado pelo amigo hétero é só uma trope muito batida mesmo.
      Enfim, acho que é mais do que possível trazer representividade subjetiva (como Hannibal, good omens, etc.) sem fazer uso de queerbaiting, que é uma prática intencional que usa a audiência LGBTQIA+ por marketing, sem representatividade de verdade.
      Espero que eu tenho respondido satifastoriamente, e obrigada!

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